terça-feira, 12 de junho de 2018


Sétima Aula

Aula do mês de Abril

Dia: 23/04/18


O Multiculturalismo e a dialética do universal e do particular 

O que é multiculturalismo? Diversidade étnica e racial, novas identidades políticas e culturais: estes são termos diretamente relacionados ao multiculturalismo. Se a diversidade cultural acompanha a história da humanidade, o acento político nas diferenças culturais data da intensificação dos processos de globalização econômica que anunciam, segundo os analistas, uma nova fase do capitalismo, denominada por autores como Ernest Mandel de "capitalismo tardio" e por outros, como Daniel Bell, de "sociedade pós-industrial".


Multiculturalismo e luta pelo reconhecimento
A luta pelo reconhecimento, antes de ser levantada pelo multiculturalismo, teve suas origens na França, quando um movimento político, a guerra pela libertação da Argélia (1954-1962), repercutiu fortemente na então hegemônica filosofia existencialista.
 A guerra anticolonialista da Argélia trouxe para o universo intelectual existencialista as ideias de Albert Memmi e Franz Fanon. Paralelamente, os pensadores ligados ao existencialismo assistiam aos cursos de Alexandre Kojève, dedicados à filosofia de Hegel (cf. Descombes, 1998). Um dos temas que mais entusiasmo despertaram foi a dialética do senhor e do escravo, presente na Fenomenologia do espírito. Essas duas figuras da consciência empenhavam-se numa luta pelo reconhecimento. Com esse referencial abstrato, a reflexão filosófica encontrou-se com a ação política. Os escritos sobre o colonialismo de Albert Memmi (1985) e Franz Fanon (2010) tiveram forte impacto na intelectualidade francesa que protestava conta a guerra da Argélia. Fanon, por exemplo, afirmava enfaticamente que a principal arma utilizada pelos franceses era a imposição de uma imagem aos povos colonizados – uma imagem evidentemente negativa e depreciativa do colonizado que, uma vez internalizada por ele, bloqueava as possibilidades da luta pela emancipação. A primeira tarefa, portanto, deveria ser a luta para modificar essa imagem, uma luta pela autoconsciência e pelo reconhecimento.1 Nesse ambiente cultural e político, Sartre (1971, p.181), de modo semelhante, observou que “o escravo vê-se com os olhos do senhor. Pensa-se a si próprio como um Outro e com os pensamentos do Outro”. O olhar surgia assim como tema central da filosofia existencialista às voltas com a dialética do reconhecimento. Através do olhar do outro a reificação se efetiva: ser olhado nos transforma em objeto.2 A companheira de Sartre, Simone de Beauvoir (1960), foi pioneira no estudo da condição feminina com a publicação do livro O segundo sexo. Uma de suas fontes é, também, a dialética do senhor e do escravo de Hegel. Educada desde sempre para cumprir determinados papéis fixados pela sociedade patriarcal, a mulher internaliza tais papéis e vive para representá-los, perdendo a sua autodeterminação e transformando-se num ser-para-outro que procura, mecanicamente, corresponder à imagem que o homem espera dela. Mas, agindo assim, ela aliena a sua identidade ao se transformar na caricatura do que ela imagina que o Outro espera dela ou, nas palavras da autora, se transforma no Outro do Outro.3 O movimento feminista surgiu para lutar contra a alienação da mulher, luta que se inicia na crítica aos papéis sociais que lhe são impostos e no reconhecimento da igualdade entre os sexos. A partir daí generalizaram-se os movimentos sociais voltados a reverter a imagem de inferioridade. A luta pelo reconhecimento consolidou, inicialmente, os direitos civis: as mulheres obtiveram o direito de voto e os negros, as leis antirracistas. O Estado democrático, assim, passou a implementar a política do universalismo, consagrando a igualdade de todos os cidadãos.


A Declaração Universal dos Direitos Humanos
Artigo 22 Todo ser humano, como membro da sociedade, tem direito à segurança social, à realização pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade.
Artigo 27 Todo ser humano tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do progresso científico e de seus benefícios.
2. Todo ser humano tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produção científica literária ou artística da qual seja autor.
Artigo 28 Todo ser humano tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente realizados.


Questionário referente ao texto: ’Multiculturalismo e a dialética do universal e do particular’

1- Qual a diferença entre as possíveis respostas ao multiculturalismo?
Existem dois posicionamentos quanto ao multiculturalismo: o que considera a nação como uma união de etnias diferenciadas e a visão que considera as diferenças étnicas como constituinte da nacionalidade e cidadania. Ou seja, uma visão incorpora a cultura a sociedade e a outra define a sociedade pelas diferentes etnias. 

2- Cite os principais argumentos de defesa dos defensores do particularismo e do universalismo.
Os defensores do particularismo alegam que as diferenças culturais quando colocadas a partir da ótica do universalismo, pressupõe que todos os homens são iguais em direitos, quando são diferentes na vida real. Já os universalistas alegam que a defesa de interesses particulares é um impedimento para a vida em sociedade com uma convivência democrática e igualitária.

3- O que significa a dialética do senhor e do escravo?
A dialética do senhor e do escravo é um conceito do filósofo alemão Georg Wilhem Friedrich Hegel que busca esclarecer a consciência das duas figuras aqui citadas: o senhor só pode existir nessa condição quando outrem é submetido a condição de escravo. Ou seja, sua existência é puramente interligada a condição de submissão do escravo, sendo portanto, o próprio senhor a figura isenta de liberdade, pois sua existência é passível do outrem. O escravo, por sua vez, existe indiferentemente da sua condição de submissão; sua liberdade é passível da sua consciência acerca de seus atos e existência, ainda que fisicamente forçado ao trabalho. Na discussão que o texto se propõe, esse conceito é cabível para a luta e afirmação da autoconsciência de si, suscitando a relevância da cultura para a formação do ser social.

4- Estabeleça a diferença entre:
4-1- o reconhecimento da igualdade e o reconhecimento das diferenças.

O reconhecimento da igualdade afirma que todos os seres são iguais, passando por cima de diferenças culturais, raciais, sociais, econômicas e históricas. É um argumento que se priva da busca do entendimento das diferenças e percalços dos seres que vivem em uma mesma sociedade.
Já o reconhecimento da diferença assume que as diferenças sociais, raciais, culturais, econômicas e históricas moldam os seres sociais, diferenciando assim o acesso e a vivência dos mesmos em sociedade.
De forma sucinta, o reconhecimento pela igualdade pode ser resumido nos valores da Revolução Francesa, enquanto o reconhecimento pelas diferenças pode ser visualizado no Movimento Civil Anti Segregacionista dos Estados Unidos.

4-2- os liberais e os comunitaristas.
Os liberais colocam os indivíduos e seus interesses em primazia, enquanto os comunitaristas dão prioridade aos laços comunitários e ao coletivo.

Os liberais isentam a responsabilidade do Estado na reparação histórica, já os comunitaristas responsabilizam o Estado na criação e implementação de políticas publicas de reparação histórica.

5- A luta pelo reconhecimento acabou politizando a cultura e a etnicidade. Quais os principais reflexos disso?
Os principais reflexos da politização da cultura são: a especificidade de direitos quanto a etnia e cultura e a rígida delimitação dos grupos culturais pertencentes. Além desses dois reflexos, também se depara com a concorrência entre os grupos culturais em serem patrimônios culturais, o que faz com que tais culturas se tornem a cada instância, alvo de colonização, globalização e comercializadas.

6- No plano teórico, qual a crítica que se faz aos adeptos do multiculturalismo?
O multiculturalismo se aproxima de fundamentos teóricos pós-modernos, se afastando da noção dialética de construção social. O Pós modernismo, por sua, define cada grupo cultural e coloca sua existência em ‘pequenas caixas’. Esses diferentes grupos entendem sua vivência apenas por uma ótica, e não como fruto de toda a história da humanidade e todas as relações sociais anteriores.

7- O que significa a “cultura política comum”?
A cultura política comum é um conceito que busca intermediar todas as culturas que existem no Estado democrático, compreendendo que não há a distinção das culturas, mas também estabelecendo denominadores comuns para a boa convivência de todos os grupos.

8- Na perspectiva dialética, qual a posição de Hegel em relação ao universal?
Hegel se posiciona perante o universal alegando que é universal a particularidade entre todos os homens, no entanto, isso não deve ser encarado como uma declaração de vacuidade e sim um conceito dialético das singularidades de todos os homens.

9- Como se colocam as massas de indivíduos dentro e fora das relações universalistas do mercado?
Os indivíduos dentro das relações individualistas são reduzidos a diferentes reinvidicantes para o mercado de consumo. De forma sucinta, a lógica do capital tem como interesse habilitar os diferentes grupos culturais para reivindicarem seu direito de consumir.

10- Qual a posição final do autor em relação às “ações afirmativas” e à “inclusão social”
Por fim, o autor considera que as ações afirmativas de reparação social devem ser incluídas estruturalmente, e não apenas como medidas paliativas. A promoção da inclusão social por esta via, sem a real mudança e ruptura dos paradigmas de raça e classe, acabam por apenas acentuar os problemas já existentes


vídeos:
www.youtube.com_watchyv_mf7Z2ipFvGo


Nenhum comentário:

Postar um comentário